A infância e o Brinquedo.
Conheça um pouco mais sobre este fabuloso mundo que é o Brincar.
ANDRELISE WEILER DE OLIVEIRA
O
MUNDO DO BRINQUEDO
Do
objeto real ao espaço virtual.
Brincar
é tão importante para a criança como trabalhar é para o adulto. É o que a torna
ativa, criativa, e lhe dá oportunidade de relacionar-se com os outros; também a
faz feliz e, por isso, mais propensa a ser bondosa, a amar o próximo, a ser
solidária. Mas a infância nem sempre foi vista através do brincar, mas
especificamente do brinquedo. Somente no final do século XIX que começou a se
manifestar um sentimento de infância, alcançando força no século XX, com as
novas redes sociais e familiares. “A
história do objeto- brinquedo fala-nos do universo infantil e do que o mundo
adulto foi propondo e exigindo às crianças para promover seu desenvolvimento.”
(LEVIN, pag.17).
Com
o crescimento do capitalismo, houve muitas mudanças sociais, alterando o
comportamento da sociedade, essa se tornou uma sociedade individualista e
extremamente consumista. A substituição da vida rural pela vida urbana e
industrial fez com as pessoas tivessem esse comportamento.
Essa mudança foi sentida nos
brinquedos, no final do século XIX início do XX as crianças brincavam com
brinquedos feitos de madeira, pedra, trapo, barro e papelão, que resultavam a
fabricação de cavalos, bonecas, marionetes, bolas, bolas de gude, aros, arcos,
objetos de puxar, pequenas cozinhas, etc.
Com a revolução industrial, surgimento
de novas máquinas houve o declínio do brinquedo tradicional, perdeu-se a fascinação
por esses brinquedos tradicionais.
Brinquedos mecânicos em destaque:
·
Automóveis;
·
Trens;
·
Jogos de construção;
·
Legos;
·
Soldadinhos de chumbo;
As
bonecas utilizadas eram as que proporcionavam maior movimento, onde as meninas colocam
em cena seu acervo materno.
A tendência
atual:
Na segunda metade do século XX surge a era do plástico, que passa
a substituir todos os outros materiais, com esse avanço e toda a mudança
social, produção em série a relação muda, da oferta de brinquedos e a demanda
infantil. O mundo adulto pode ser produzido em miniatura.
O brinquedo torna-se o resultado de testes minuciosos e de
conhecimento cientifico verificando o correto desenvolvimento das diversas
atitudes corporais, motoras e cognitivas.
A tendência atual faz com que o conhecimento fique na dependência
do objeto, a criança não precisa descobrir o mundo que está ao redor, pois o
objeto brinquedo traz com ele um significado, “o objeto banaliza a busca, o acaso e a aventura infantil” (LEVIN,
pag.23).
Foi em 1930 que o começou-se a ter a ideia de o brinquedo como
material didático programado, tendo por objetivo aplicar atividades às crianças
de diferentes faixas etárias. Com isso a criança e brinquedo são padronizados.
A nova era dos brinquedos trazem vários atrativos como sons, ritmos, ruídos,
detalhes sedutores, foram sendo aperfeiçoados até completar-se a si mesmo.
Apogeu técnico do
objeto:
Após alto grau de aperfeiçoamento, o objeto brinquedo, acaba por
brincar sozinho, se torna protagonista de uma brincadeira solitária –
autossuficiente, a criança é privada do prazer do brincar inventado, imaginado
e fantasiado, a criança fica imóvel, fixa enquanto o brinquedo brinca
sozinho. A ludicidade não faz mais parte
das brincadeiras. “Para as crianças os
brinquedos são mentiras verdadeiras” (LEVIN, pag.26).
“Atualmente,
a situação está claramente invertida: o brinquedo passa a ocupar o lugar de
sujeito da brincadeira-atividade e a criança torna-se objeto passivo/estático”.
(LEVIN, pág.26)
Não bastando toda essa mudança,
brinquedos em que as crianças acabam por não ter mais os momentos de
descobertas, temos ainda os jogos eletrônicos, que fascinam a meninada, além da
televisão que faz com que as crianças vidrem na frente dela e passem a viver
naquele mundo. Isso tem crescido cada vez, o que é muito triste, mas é a
realidade e pior que isso, é a probabilidade de aumentar ainda mais, pois
muitos pais com toda essa mudança da sociedade contemporânea preferem que seus
filhos cheguem em casa ao final do dia ,
sentem na frente da televisão e fiquem quietos, não perguntem, não peçam para
brincar, jogar um jogo,ler um livro. Com isso a mídia e as empresas desses
aparelhos crescem e se propagam mais e mais a cada dia. Assim sendo essas organizações
investem em programas e novidades que vão atingir cada vez mais seu público
alvo, as crianças. Que estão ali, esperando pra que sejam ensinadas, esperando
para que suas “gavetinhas” sejam preenchidas, infelizmente são ocupadas por
coisas na maioria das vezes inúteis para seu desenvolvimento e crescimento, “as multinacionais multiplicam seus negócios
e a oferta é a maior que a demanda, apesar de que as crianças sempre querem
mais.” (LEVIN, pag.29).
Com todos esses atrativos os
brinquedos acabam perdendo seu espaço, sua venda diminuiu, afinal de contas as próprias
crianças não querem mais saber deles. A infância dessas novas gerações perdeu
muito, pois as crianças passam a viver o superficial, se vê e deseja ter e ser
o que a tela maravilhosa e mágica às transmite.
Existem duas maneiras de vermos e utilizarmos
essas imagens, de maneira sem intervenção adulta, deixando a criança
aprisionada às imagens em um momento solitário ou transformar em um momento em
que o adulto ajuda a criança a criar, inventar, despertar a curiosidade de
expandir novas descobertas, sendo assim a televisão poderá ser utilizada como
grande aliado na educação das crianças.
“Não
se trata de tirar a tela da vida das crianças, pois elas fazem parte do
universo infantil atual, mas também não se pode imaginar que através delas a
criança consiga instituir-se na historicidade infantil que a nomeia como
sujeito.”
Com tudo, podemos encerrar esse capítulo com a mensagem de que
nossas crianças, por influencia dos avanços tecnológicos, das mudanças em nossa
sociedade, perderam o contato com os brinquedos tradicionais e altamente
educativos e propícios ao seu desenvolvimento. Hoje encontramos crianças presas
à televisão, aos equipamentos, brinquedos e jogos eletrônicos, sem interagir
com suas famílias e lotando os consultórios psiquiátricos com problemas de
aprendizagem e desenvolvimento, ora, como podemos exigir que uma criança
aprenda se nem mesmo o ato de brincar, que é algo melindroso da infância, a tiraram?
Estamos em uma era difícil e cabe a nós educadores
resgatar esses valores, a fim de tornarmos nossas crianças seres mais felizes,
capazes de se tornarem cidadãos do mundo, questionadores, formadores de
opiniões, pesquisadores e principalmente críticos, traços esses de uma criança
que não foi privada de viver e sentir sua infância, uma idade sagrada.
LEVIN, Esteban. Rumo a uma infância virtual? A
imagem corporal sem corpo. Petropólis, RJ: Vozes, 2007.